Abandonware
Breno Franco em 17/05/2007Em (outro) post sobre a filosofia do software, vou falar sobre Abandonware, como fica óbvio pelo título. Isto não é sobre software livre – ou pelo menos não ainda.
E não é sobre nenhuma licença de uso. É sobre um modo de interpretação da forma de uso do software proprietário e uma reflexão acerca da validade de suas licenças. O que, de forma bastante vulgar, podemos chamar de ideologia.
Resumidamente, “abandonware” é todo software que foi “abandonado” por seus fabricantes, isto é, todo progama que não é mais vendido, exceto em lojas que os compraram há muito ou que, por ser antigo, não possui mais suporte.
Boa parte desses programas foi feita para sistemas já ultrapassados (leia-se DOS). Isso estimulou o desenvolvimento de ferramentas open source como o DosBox, que emula um x86 rodando um ambiente DOS limitado, permitindo rodar aplicações desse sistema sob SOs mais recentes, como o Windows XP, que já não roda DOS (ou algo compatível) nos bastidores, e os GNU/Linux, que não partilham das interrupções do SO da Microsoft.
Quem usa abandonware, e o compartilha, o faz por pensar que tais peças da nobre Arte (a arte da programação :) ) e que tanto trabalho árduo e idéias criativas não devem ir para a vaga memória de quem os usou, perdendo-se em disquetes de 5″1/4 escondidos em algum lugar sob camadas de poeira, certo?
Errado. Pelo menos para a maioria dos usuários, acostumados com o compartilhamento de músicas, filmes e outros tipos de informação protegidos (ainda que contestavelmente) por direitos de cópia, abandonware é só mais um jeito de conseguir entretenimento de graça na Internet. Entretanto, com uma justificativa razoável – os programas (em sua esmagadora maioria, jogos) muitas vezes se encontram realmente abandonados.
Uns estão plenamente esgotados ou extremamente raros, e são realmente originais e inovadores para sua época (e alguns até para hoje!). Outros são órfãos, com as empresas e estúdios de seus produtores tendo falido ou sido comprados por outros, ou meramente deixando essa linha de produtos de lado.
Além disso, a maioria das empresas que detêm os direitos para esse software não vê vantagem em gastar dinheiro processando usuários de um programa que já não traz mais lucro. Essencialmente, é por uma questão de custo x benefício que esse tipo de acusação não ocorre. Desse modo, os usuários vão vivendo na área cinzenta que se encontra na ilegalidade mas conta com a conivência do sistema jurídico.
Em suma, abandonware é quebra de copyright ou de licença de uso? Sim.
Prejudica os produtores do software original? Sim, mas não o suficiente para se darem ao trabalho de entrarem com ação jurídica.
Deve crescer com a passagem do tempo? Sim.
É menos descarado que cópia ou criação de clones de softwares lucrativos? Sim.
É um jeito de se usar programas bons que estão esgotados? Sim.
É pirataria? Sim, mas o usuário é mais corsário do que pirata, tendo obtido sua “carta de corso” por omissão (sites como o Abandonia retiram os jogos do ar se contatados pelos detentores do copyright, como a ESA).
Mas a principal pergunta é:
É moralmente ambíguo?
Sim.